domingo, 22 de agosto de 2010

Ciclo I - Números

Esse é o texto mais introspectivo que eu já fiz na vida. Me pergunto quantos conseguirão entendê-lo. Aliás, me pergunto se sequer haverá alguem que terá ideia do que estou falando. Mas o segredo é justamente esse, deixar ele aberto a mais de uma interpretação. No caso dessa minha intenção falhar, eu converto o texto pra inglês e musicalizo. Ah, deve dar uma boa letra de música.

Um. Sozinho. Solitário. Um é ponto. O universo possui infinitos pontos, rodando sozinhos a procura de um outro para que se completem. No começo é assim que nos sentimos. Um. Sozinho. Solitário.

Dois. Eu. Você. Um só. Achava que tinha encontrado um ponto que completasse. Mas por mais que a física seje boa, a química faz eu me sentir como um de novo. Subtração onde deveria haver adição. E Um continua procurando outro ponto para
voltar a ser...

Dois. Um outro dois. Um dois diferente. Eu achava que ia ser Um novamente, e você aparece. Faz-me dois ser um.

Três. Primeira vez. Nunca passei por isso antes, então não sei o que virá depois daqui. Três é o fim da privacidade.
Não é mais o EU e VOCÊ. É a união de mais um elemento, pronto para se nivelar aos outros dois. Três...como deve ser?
Primeiro há três "dois". Três pontas de um triângulo. Três vértices se unindo para formar as suas arestas. E após o triângulo tomar forma,
é hora de montar seu centro. Circuncentro. Baricentro. Ou que porra vocês queiram chamar uma tríplice. Nós nos unimos. E três se tornam um.

Três. Já não é mais novidade. Mas eu gostei. Deixou saudades. E meu instinto pede para eu repetir. Não cansei de geometria, quero formar mais um triângulo.
Canto em voz alta pra ver se mais algum matemático está afim de tal lição. E dois pedem a atenção. Peguem as réguas, e comecemos a medição. Primeira vértice: eu e você.
Segunda vértice: você e ela. Terceira vértice: eu e ela. Centro: Nós. Repito o que já tinha feito na lição anterior. Ensino aos ingenuos um novo passo.
Há um observador entre nós, alunos, puxando as cobertas para ver tal cena. Serias um professor vendo se tudo foi feito da forma certa?
Não...apenas um curioso, assistindo um delírio tomar forma.

Dois. Primeira aresta? Queria de novo, dessa vez subtraindo um elemento. Dois. Apenas nós dois. Sem elemento intruso, sem área, sem centro. Apenas uma fina linha, que começa em mim,
e termina em você. Um segmento de reta. Um êxtase surpresa.

Quatro. Se três é demais, o que é o quatro? Não sei a resposta, então, só experimentando para saber. Não me avisaram como é um quatro. Descobrirei por conta própria.
Se eu já tinha as duas vértices, 3 comigo, bastava apenas achar a quarta. Enxergo o meu primeiro "dois". Dois mais dois são quatro. Meu dois foi meu dois, e agora seria meu quatro.
Juntos deitamos, prontos para formar um quadrado. Desta vez não há arestas. Apenas um unico ato, para formar o centro. Percebo que no fim... o quatro acaba sendo três. Quatro vértices não se tocam. Não se concentram.
Quatro só é divertido se aplicarmos a divisão. Quatro pode se tornar dois. Ou um quadrado pode se dividir em dois triângulos. Façam como preferir.

Um é pouco. Dois é bom. Três é demais. Quatro é...é...fora do limite?

E eu pensei que havia uma pausa nessa aula toda de matemática. Nunca fui fã dos números, e percebo que nem sempre o mais alto é o melhor. Mas sempre há o desconhecido. Eu conhecia o um. O dois. O três. O quatro. Qual o proximo passo.
Eu vejo vértices indo para um local onde nova forma geométrica tomaria forma. Quatro vértices. Me mordo de curiosidade...quero ir até lá para saber como é uma estrela humana. Um pentágono.
Logo que dou o primeiro passo, dois braços me prendem, me dizendo que CHEGA DE MATEMÁTICA antes que os números me endoidem. Eu não tô doido. Me desvencilho, corro até lá, e...

Cinco. Eu não sei aonde estou me metendo. Cinco. Primeiro eu vejo um dois, e fico tenso. Cinco. Vejo então o "meu" dois, mas então percebo que o meu dois não é mais meu dois, e sim, parte do cinco.
Cinco é inexplicável. Cinco é injustificavel. O Cinco me assusta. Eu não quero ficar aqui, é demais até pra mim. O pentágono começa a tomar forma, e...NÃO. Não quero fazer parte disso. Adeus, números. Saio correndo, e olho pra trás.
Os vértices formam um quadrado. Eu era o elemento extra. Me sinto de fora, mas continuo correndo em frente, sem me arrepender.

Foram-se os cinco. Foram-se os quatro. Foram-se os dois três. Foram-se os três dois. Quantos sobram?
E é nesse momento...que paro e penso. Valeu a pena? Sim. Descobri números, relações e sensações. Vale continuar querendo mais no futuro? Não.
Afinal, de que adiantou tantos pontos...quando no final, restou apenas o um novamente?