domingo, 19 de dezembro de 2010

Ciclo I - Ce Qui Se Passe Dans Tes Yeux?

Faço-me esta pergunta toda vez que o meu olhar indagador, se cruza com o teu. Você construiu um enigma dentro de ti, e nada me satisfaria mais do que pular o seu muro. Seu corpo não se destaca entre os outros mortais. Sua face se contenta com a felicidade alheia. Suas mãos parecem vibrar com a vida. Mas são nos seus olhos que você edificou o esconderijo. Neles, você apenas dá sinais, mas não revela nada. Eu quero te conhecer. Eu quero encontrar o seu verdadeiro olhar.

O que se passa em seu olhar? No que pensas naqueles minutos em que olha para o horizonte, sem expectativas de grandes eventos? Eu nunca posso ter certeza, mas eu sinto que você foge. Foge de uma realidade que nem sempre te agrada. Foge de um mundo que já o machucou bastante. Foge desse chão que estamos sentados, e viaja para um planeta onde rir seja uma tarefa mais fácil. Ou que não se precise rir, afinal...mas chorar, como você pode estar precisando. Algo dentro de você está morto. Um lado seu ainda quer morrer. Te deixaram marcas: quantos foram necessários para te danificar assim?



E alguém conta uma piada, e você ri. Você não está percebendo, mas eu estou te olhando. Bem nos seus olhos. E mesmo na felicidade, sinto sua alma cansada. Você quer ser feliz de verdade, e não é uma piada que te trará isso. Você não quer mais ouvir musicas melancolicas e dormir sem ter vontade de acordar. Quer é viver o presente, sem ter mesmo vontade de dormir.

Ou não. Como eu disse, eu queria saber mesmo o que se passa no seu olhar. Não queria apenas supor, mas ouvir da sua boca. Na próxima vez que nossos olhares se cruzarem, leia o meu também. Não prometo ser tão complexo, pois temo abandonar as filosofias enquanto te fito. Mas nele estará legível ESPERANÇA. E espero te fazer lembrar do seu lado morto, assassinado pelos outros mundanos e ressuscitável com uma nova experiência.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ciclo I - O Colhedor

Eu sou um simples colhedor de frutas. Caminho longas estradas, e atravesso matas fechadas buscando tesouros em galhos. Minha ambição de vida é encontrar a maçã perfeita. Não perfeita para todos, mas perfeita para mim. Não precisa ser a maçã mais vermelha da árvore, pois consigo me impressionar com o simples que nem eu . Não tem que ser da macieira no topo do Caburaí. Nem precisa estar no topo. Terei medo de ir alto demais, e acabar caindo. Não, a maçã perfeita pode estar naquela árvore que eu nunca reparei nos meus caminhos para casa. Um dia simplesmente noto que ela existe. O seu aroma me chama. Consigo imaginar seu gosto doce como mel ao fechar meus olhos. Ao dar minha primeira mordida, sei que nada será igual.

Encontrei minha maçã, e por ela tenho gula. Colho peras e laranjas para todos os anões e gigantes, e as chupamos juntos enquanto rimos. Mas essa maçã é minha. Não quero dividí-la com ninguém. Mas mesmo assim me pedem fatias. E a maçã brilha, como se quisesse mesmo ser repartida. Seu sabor doce chama os andarilhos, que também querem provar a minha maçã. Com o sangue bombeando egoísmo e ciume, tenho vontade de matá-los. Mas não tenho forças. "Eu sou um simples colhedor de frutas! A única coisa que espero da minha sina é poder ter a minha maçã perfeita, somente para mim." E fujo com ela em mãos.

Escondido, longe dos olhos cobiçadores, cheiro minha maçã. Ela é tão tentadora! Tenho pena de dar a primeira mordida, pois uma vez violada, não manterá seu doce para sempre. Mas eu sucumbo, e cravo meus dentes. E CUSPO! Não era doce como mel, porém amargo como fel. Minha maçã perfeita tinha um gosto horrível. Não conseguirei comê-la nunca. O que resta dela passa de vermelha para preto, enquanto eu sinto uma terrível ansia em mim. Estou sem ar. Minha maçã me envenenou. Pareço sem forças, quase que caindo de joelhos. Mas ainda tenho o suficiente para cuspir fora o pedaço que engoli.

Desmaio, mas logo volto ao mundo. Tudo parece tão claro agora. O que vi na maçã que jaz ao lado do meu corpo? Talvez foi uma doce ilusão. Ou culpa de um encantamento. Como Branca de Neve e o resto do mundo, cai nas garras da inocência. Porém, comer maçãs podres me tornam mais resistente, mesmo que a ingenuidade dê lugar à angustia. Perco meus anseios, sem perder, porém, a esperança.

Eu sou um simples colhedor de frutas. Minha ambição de vida é encontrar a maçã perfeita. E procuro, procuro, procuro...

domingo, 5 de dezembro de 2010

Ciclo I - Disfarce

Corpo cansado. Mente saturada. Noites se vão, e minha exaustão parece não passar. Como faço para descansar? Passo o dia lutando contra papéis, e a noite lutando contra dragões. Meus sonhos me ensinam, porém me cansam. Peço a minha alma que não quero sonhar com sombras, mas sim com certos lábios. E pra variar, ela não me escuta. Passo então a noite lutando, e acordando como se tivessem martelado minhas pernas. Cansado de uma vida atualmente cheia, sem espaço para sequer um devaneio.

Acordo, e me olho no espelho. Aquele garoto descabelado com olho inchado de cansaço me fita. Me reconheço em seu olhar, mas não é esse olhar que levarei para o outro lado da porta da frente. Eu tomo um banho, e ele me disfarça. Lava meus tédios. Me reanima para uma nova luta contra os papéis. Com a sua água, me batizo da fraqueza do dia anterior, e mascaro meu rosto. Colo uma face de feliz por cima da face de cansaço. Tenho que tomar cuidado pra essa face não cair do meu rosto cedo demais.



Por cinco dias, essa é minha sina. No sexto e sétimo, vem a expectativa de uma recompensa. Da face feliz ser a principal, e não apenas uma máscara. Minha alma pede você como recompensa. Hoje quero te ver. Mas contrariando o ciclo, hoje acordei com a face cansada. Terei que me mascarar novamente? Por você, sim. Não quero que veja minhas fraquezas, não ainda. Já estou indo, quando fico sabendo. Não te verei. Desejo continuou no mundo dos sonhos. Meu cansaço vem para o mundo real, fortalecendo o já forte. Fico mais exausto ainda. Essa bola de neve me pegou de jeito, e enquanto espero isso passar, penso comigo: É, acho que hoje não tomarei banho!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Ciclo I - Conflitos

Darwin, citosol, criptógamas, agádoisó...as vezes vem o desejo de jogar tudo isso pro alto. Esquecer o consciente, e deixar falar apenas a alma. Parar de pensar em processos, e focar em personagens. Mas o que fazer com o futuro quando se é possível a construção de uma sina na Ciência, mas a indiferença em relação a ela é diretamente proporcional? É contraditório você respirar ciência a maior parte do dia, mas ao mesmo tempo não se importar nem um pouco com o neurotransmissor que o botão terminal libera para gerar a contração muscular? É desesperador quando você escreve textos e poesias enquanto deveria estar a ouvir o mestre descrever a produção de corpos cetômicos? Sim, é contraditório. Mas não desesperador. Dizem por aí tanto sábios quanto amadores, em outras palavras, que a vida em si é uma contradição, com bifurcações em todo o tempo. Hoje eu tenho dúvidas. Amanhã terei certezas. Ou talvez no dia seguinte.


Então o que escrevo vale para hoje (ou não): eu não me sinto um cara da Ciência. Eu não orgulho quando alguém fala "em nome da ciência"; indiferença é a voz mais alta. Admiro as grandes mentes que dedicam sua vida à mãe-natureza, mas sei que elas devem ter orgulho de si mesmas. O que eu sentiria se eu descobrisse uma nova espécie de cianobactérias? Acho que não a tão buscada realização pessoal. Não culpo a Ciência, mas a mim. Só acho pessoas mais interessantes. Não nossos eritrócitos, mas sim nossos vicios, nossas virtudes, nossos erros, nossas almas. Complexidade é fascinante. Aquele vizinho aposentado da porta da frente que ninguém visita pode ser no íntimo, um exímio poeta. Einstein podia ser um ótimo cantor, usando o chuveiro como prática. Ou não. Talvez ele tivesse nascido para a ciência mesmo! Será que eu nasci? Ciência, devo te amar ou te largar? Admito que muitas vezes penso na segunda opção, mas terei eu senso para perceber que estou errado? Ou coragem para defender minha tese e te largar de vez?

domingo, 14 de novembro de 2010

Breve Comentário

Uma hora já se foi, e dezenas de mortes já pontuam a superfície terrestre neste dia que acaba de começar. Em algum lugar, já devem ter pessoas chorando a perda de seus parentes, filhos ficando órfãos, mulheres ficando viúvas. Em algum canto, uma mulher acaba de abortar o tão esperado filho que seria o futuro presidente da nação, ou capitão do time de futebol. Hoje, alguém será brutalmente espancado, outro será humilhado, um terceiro sentirá a dor de um tiro antes de sucumbir. Talvez alguém morra de fome. Talvez uma menina seja estuprada. Meu deus, tanta coisa ruim pode acontecer ao ser humano enquanto exposto ao mundo. As sensações dessas pessoas certamente são sensações que eu nunca experimentei antes. Mesmo assim, numa enorme onda de egoísmo humano, eu não consigo parar de me sentir o pior dos seres por ter marcado "47" ao invés de "74" no gabarito do vestibular. Por quê...por quê...?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Ciclo I - Mabel

Boneca solitária, o que fazes o dia todo? Pensas no mundo, ou somente em você? Lamentas a sua triste sina de solidão, ou está resignada com este destino que já veio pré escrito quando foste feita? Teu olhar enigmático me fita toda vez que passo por essa prateleira, independente de momento. Dando-me dicas sobre você? Te direi o que penso de ti: sei que deve sentir saudades de dedos te tocando, alisando teu cabelo, te tratando como um brinquedo e ao mesmo tempo como humana. Sente saudade de quando sua tarefa era fazer os outros felizes, e deve sentir saudades também dos sorrisos que provocava no rosto de minha irmã, e na minha mãe, e na minha avó.

Boneca solitária, tu és velha. Com rostinho de menina, corpo de infante e roupa floral - deves até ter tido cheiro de morango - tu já viu muito mais coisas do que minha própria geração. Deveria isso ter algum valor? Não tem. Com toda experiência, continua sendo você que está em um canto, não eu. Mas eu tenho pena de ti. E quero te dar mais um dia de vida. Para que possas descansar com uma lembrança recente de felicidade. Será que alguém fará o mesmo por mim quando chegar a minha vez?



Te chamo de Mabel, pois você tem cara de Mabel. Vi em ALICE, e gostei. Te jogo para o alto, e você volta penetrando minha imaginação. Cansado de pensar, adormeço, e sonho contigo. Não és mais uma boneca internamente enrugada. Lentamente, tu se transforma em uma linda mulher, que vem dançar comigo implorando por amparo. No seu olhar castanho ainda consigo perceber todo o dano que este anos de desprezo lhe causou.Tu encostas sua cabeça no meu ombro, enquanto valsamos uma marcha de formatura. Eu queria sentir amor por ti, mas só consigo sentir pena. E medo, de algum dia estar no seu lugar.

Boneca solitária, seu corpo está em pedaços. Oh, Mabel, sua tinta já se foi. Seu cabelo já desbotou. Sua roupa está suja. Tu jazia esquecida, numa prateleira de quartinho trancado no segundo andar. Então, me deixas o mistério. Porque mesmo depois de tantos infortúnios, tu ainda estampas este sorriso? Porquê fostes feita para isso, ou porquê tem esperança de que voltarás a ter importância na vida de alguém?

sábado, 9 de outubro de 2010

Ciclo I - Indagações

E se eu for feliz? As palavras fugirão de mim? Se eu for feliz, toda esta complexidade que vem conversar comigo me abandonará? Não me preocuparei mais em achar respostas para o quesito "vida" uma vez que já encontrei o ápice da busca humana? Não vasculharei mais cada pedaço de mim esperando encontrar erros e acertos? Não sei...não sei mesmo. Apesar de ter esperança de que um dia a felicidade chegará para eu finalmente descobrir essas respostas, nunca imaginei o túnel que tem que se percorrer para chegar até ela tão longo. Tão longo, que eu nem sequer consigo ver o ponto de luz no fim dele. Perdeu-se no horizonte. E quanto mais milhas eu caminho para encontrá-lo, ainda sim sinto que continuo no breu total.

Eu escrevo angústias, e canto tristezas. Minhas mãos dedilham experiências em lugar das lágrimas que eu não consigo derramar, e meus lábios gritam, chamando um tempo que ainda não chegou. Uma parte de mim anseia por esse tempo mais do que as flores anseiam pela primavera. Não sou como neve, que teme pelo raio de sol. Eu sorrirei quando eu sentir uma pontinha de luz clareando minha vida em escuro. Sorrirei também com uma nuvem de chuva, pois com ela vem arco-íris, pintando a escala de cinza. Mas enquanto eu não sou feliz, turbilhão de pensamentos chegam para deitar em meu ombro e me sussurrar coisas. E aí, então, eu escrevo. É o que eu farei até lá.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ciclo I - Dois em Um


Eu me sinto escravo dos meus próprios sonhos. Me perco quando mergulho em mundos em que eu possuo as fronteiras, mas não o domínio. Minha subconsciência...porque tu me trais? Eu pensei que fossemos amigos. Pensei que estivestes do meu lado o tempo todo. Que aprovasse as decisões que tomei nesse caminho pedregoso de dores e amores. Mas não. Fecho meus olhos, e tu me fazes perder o controle. Me obriga a assistir minhas próprias sinas. Meus próprios pecados. Meus próprios prazeres. E o irônico , é que quanto mais tempo gasto com racionalidade, mas emocional tu me tornas.

Não me esquecerei da sua mais nova traição, minha doce irmã siamesa. O dia em que eu caí numa casa cheia de quartos escuros, com sete portas em que viviam sete irmãos. Vejo eu mesmo caminhando em direção à porta mais escura, pois sei o que está atrás dela. Escuto um dos irmãos me chamando, e eu, submisso, atendo ao seu ordeno.

Subconsciência, você conhece esse irmão tanto quanto eu. Você chorou por ele enquanto eu apenas tentava me congelar. Respondeu promessas quebradas com pragas, enquanto a mim, cabia a boca calada. Me sugeriu que eu o colocasse dentro de uma caixa, trancasse e jogasse a chave fora na mais alta cuesta. Então porque gratuitamente, me atira aos seus braços? Porque me faz ver o quão esplêndido seria se o imaginário fosse real? "Para te fazer abrir essa caixa de pandora, e fazer voltar à superfície um desejo adormecido..." Tu me responde. "...porque esqueces de tempo em tempo que és humano, e isso é significado de ser fraco."

Pois eu abraço este desafio que me impões, meu córtex flagelador. Pois se há algo que eu devo te provar, é que sei aprender lições. Sei errar. Sei errar o mesmo erro. Mas que também sei aprender com ele. E te prometo que tentarei te prometer que não mais derramará lágrimas, nem profanidades por um circulo cuja seta acaba de retornar ao estágio inicial. Será um ciclo, ou será desta vez uma reta, pronta para seguir em frente, rumo ao infinito? Acho que sou corajoso, mesmo que masoquista, o suficiente para tentar ver se há horizonte ou curva fechada no fim dessa estrada. Olho muitas vezes pra trás, atraso ao máximo meus passos, mas não há saída. Inevitavelmente parto daqui, para conferir um futuro constituído sabe-se lá de quê. "Não se esqueça que pessoas e fatos podem ser traiçoeiros" é o seu último conselho. Eu ouço, porém não escuto. Porquê eu deveria ter medo de coisas traiçoeiras do mundo físico, quando você mesma, minha subconsciência, que vive no abstrato, já vive me pregando peças?

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Ciclo I - Em Transição

Post fruto de uma conversa que tive hoje com minha mãe, via msn. Banalizamos a palavra "clima" para nos referirmos tanto a tempo quanto a relações interpessoais. O que nós conversamos marcou, e me deu inspiração para este texto. Obrigado, mãe.
Uma era está acabando. Morrendo para dar lugar a uma nova, que está perto de nascer. Frio dá lugar a amenizagem. No ambiente, e na minha alma. Inverno finalmente coloca seu cobertor, apaga a vela que o iluminava, e se prepara pra dormir. Sai então a senhora primavera, com sua coroa de rosas, e seu traje feito de hera, voando pelo mundo e despejando suas pétalas nos olhos de quem não a esperava.

Acabou. Este é o fim do frio que me perturbava. Fim dos dias cinzentos. Fim das longas noites. Fim desse silêncio, que martelava em minha cabeça mais do que mil trovões. Passei frio por muito tempo. Esse é o momento de ligar a minha vela e expulsá-lo. Chega dos dias azuis. Agora eu quero verde. Verde que está entre o azul frio do inverno e o amarelo ensolarado do verão. Verde das plantas. Porque não, verde de esperança? Esperança por tranquilidade, paz, e a promessa de que terei um lugar mais aconchegante quando eu chegar em casa. É só o que eu peço nesse momento. Curtirei bem a chegada dessa nova era, a primavera, de forma bem tranquila. Na próxima era as coisas vão esquentar, e muito...mas ainda falta alguns milhares de segundos até lá. Foco nessa, e torcida para chegar na outra de bem. Verde de esperança, lembram?

domingo, 22 de agosto de 2010

Ciclo I - Números

Esse é o texto mais introspectivo que eu já fiz na vida. Me pergunto quantos conseguirão entendê-lo. Aliás, me pergunto se sequer haverá alguem que terá ideia do que estou falando. Mas o segredo é justamente esse, deixar ele aberto a mais de uma interpretação. No caso dessa minha intenção falhar, eu converto o texto pra inglês e musicalizo. Ah, deve dar uma boa letra de música.

Um. Sozinho. Solitário. Um é ponto. O universo possui infinitos pontos, rodando sozinhos a procura de um outro para que se completem. No começo é assim que nos sentimos. Um. Sozinho. Solitário.

Dois. Eu. Você. Um só. Achava que tinha encontrado um ponto que completasse. Mas por mais que a física seje boa, a química faz eu me sentir como um de novo. Subtração onde deveria haver adição. E Um continua procurando outro ponto para
voltar a ser...

Dois. Um outro dois. Um dois diferente. Eu achava que ia ser Um novamente, e você aparece. Faz-me dois ser um.

Três. Primeira vez. Nunca passei por isso antes, então não sei o que virá depois daqui. Três é o fim da privacidade.
Não é mais o EU e VOCÊ. É a união de mais um elemento, pronto para se nivelar aos outros dois. Três...como deve ser?
Primeiro há três "dois". Três pontas de um triângulo. Três vértices se unindo para formar as suas arestas. E após o triângulo tomar forma,
é hora de montar seu centro. Circuncentro. Baricentro. Ou que porra vocês queiram chamar uma tríplice. Nós nos unimos. E três se tornam um.

Três. Já não é mais novidade. Mas eu gostei. Deixou saudades. E meu instinto pede para eu repetir. Não cansei de geometria, quero formar mais um triângulo.
Canto em voz alta pra ver se mais algum matemático está afim de tal lição. E dois pedem a atenção. Peguem as réguas, e comecemos a medição. Primeira vértice: eu e você.
Segunda vértice: você e ela. Terceira vértice: eu e ela. Centro: Nós. Repito o que já tinha feito na lição anterior. Ensino aos ingenuos um novo passo.
Há um observador entre nós, alunos, puxando as cobertas para ver tal cena. Serias um professor vendo se tudo foi feito da forma certa?
Não...apenas um curioso, assistindo um delírio tomar forma.

Dois. Primeira aresta? Queria de novo, dessa vez subtraindo um elemento. Dois. Apenas nós dois. Sem elemento intruso, sem área, sem centro. Apenas uma fina linha, que começa em mim,
e termina em você. Um segmento de reta. Um êxtase surpresa.

Quatro. Se três é demais, o que é o quatro? Não sei a resposta, então, só experimentando para saber. Não me avisaram como é um quatro. Descobrirei por conta própria.
Se eu já tinha as duas vértices, 3 comigo, bastava apenas achar a quarta. Enxergo o meu primeiro "dois". Dois mais dois são quatro. Meu dois foi meu dois, e agora seria meu quatro.
Juntos deitamos, prontos para formar um quadrado. Desta vez não há arestas. Apenas um unico ato, para formar o centro. Percebo que no fim... o quatro acaba sendo três. Quatro vértices não se tocam. Não se concentram.
Quatro só é divertido se aplicarmos a divisão. Quatro pode se tornar dois. Ou um quadrado pode se dividir em dois triângulos. Façam como preferir.

Um é pouco. Dois é bom. Três é demais. Quatro é...é...fora do limite?

E eu pensei que havia uma pausa nessa aula toda de matemática. Nunca fui fã dos números, e percebo que nem sempre o mais alto é o melhor. Mas sempre há o desconhecido. Eu conhecia o um. O dois. O três. O quatro. Qual o proximo passo.
Eu vejo vértices indo para um local onde nova forma geométrica tomaria forma. Quatro vértices. Me mordo de curiosidade...quero ir até lá para saber como é uma estrela humana. Um pentágono.
Logo que dou o primeiro passo, dois braços me prendem, me dizendo que CHEGA DE MATEMÁTICA antes que os números me endoidem. Eu não tô doido. Me desvencilho, corro até lá, e...

Cinco. Eu não sei aonde estou me metendo. Cinco. Primeiro eu vejo um dois, e fico tenso. Cinco. Vejo então o "meu" dois, mas então percebo que o meu dois não é mais meu dois, e sim, parte do cinco.
Cinco é inexplicável. Cinco é injustificavel. O Cinco me assusta. Eu não quero ficar aqui, é demais até pra mim. O pentágono começa a tomar forma, e...NÃO. Não quero fazer parte disso. Adeus, números. Saio correndo, e olho pra trás.
Os vértices formam um quadrado. Eu era o elemento extra. Me sinto de fora, mas continuo correndo em frente, sem me arrepender.

Foram-se os cinco. Foram-se os quatro. Foram-se os dois três. Foram-se os três dois. Quantos sobram?
E é nesse momento...que paro e penso. Valeu a pena? Sim. Descobri números, relações e sensações. Vale continuar querendo mais no futuro? Não.
Afinal, de que adiantou tantos pontos...quando no final, restou apenas o um novamente?