sábado, 23 de abril de 2011

Ciclo II - Implosão

Aos olhos alheios, eu sou um homem. Ao meu ver, eu sou uma bomba. Na minha testa, tatuei com pensamentos a sigla 'TNT'. Pois sou recheado de pólvora imaginária, essa que se forma com o cansaço, e explodirei a qualquer momento. Explodirei para queimar essa minha casca, e deixar meu espírito vagar por aí sem medo de se esconder dos outros. Explodirei para ser mais livre. Explodirei de raiva com as injustiças e ignorâncias que hoje ainda me calam. Explodirei para mostrar ao mundo verdade, ou simplesmente mostrar que eu não me importo tanto assim como querem que eu me importe.

Pensando melhor, é melhor pensar em mim como uma coisa mais vívida que uma bomba. Que tal um ovo? Sou então um ovo, sendo minha face a casca, meu sangue a clara, e minha alma o embrião de um passarinho. Meu sangue nutre meu espírito, assim como a clara vai nutrindo o pássaro até ela ficar escassa e ele se formar. E aí chega o momento das bicadas. O pássaro bica a casca, ansioso por liberdade. Não consegue ficar preso ali, pois sabe que existe para voar livre. Assim é meu espírito. Ele me bica, gritando e me causando dor, com todo esse desejo de sair por aí sem que ninguém o imponha limite. Ele quer conhecer o mundo. Ele quer viver experiências. Ele não quer ficar quieto no seu canto como as vezes eu cruelmente o imponho.


E aí chegará o dia em que a casca será furada, ou a bomba será implodida. Será esse o dia em que viverei dentro das minhas próprias linhas de limite. O dia da minha auto anarquia. O dia em que o "foda-se" será ligado para aqueles que me disserem que eu não posso ser feliz ao meu modo. Se ainda quiserem se despedir do meu antigo eu, juntem os pedaços da casca (ou os restos de papel da bomba) e atirem seus restos mortais no mar. Sem nem tentar grudá-los de volta, pois não vai adiantar. Esse meu eu morrerá.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Ciclo I - Ao Céu

Eu durmo para fugir. Fugir desse meu sonho cinzento que é a vida real, e encontrar o mundo em que posso ser o que quero. Nos sonhos, eu sou um super-herói. Eu posso voar, me desequilibrar e bater em um prédio, depois sacudir a poeirinha e alçar novamente o voo. Não tenho medo de quedas. Pra quê? Aqui eu nunca morrerei mesmo...não sentirei as dores dos meus erros. Não sofrerei com uma decisão mal-tomada.

Eu durmo para sonhar. Sonhar com estrelas, disco voadores, e planetas distantes. Pra sonhar com pessoas que deixei irem embora no mundo real, revendo-as sem lembrar das distancias. Pra sonhar com aquela pessoa que é praticamente perfeita, mas cujo unico erro, o de morar nos confins de minha mente, ser fatal. Ela até pode existir no mundo real, mas não é como no meu sonho. É imperfeita e incompatível. Ninguém é mesmo perfeito... (Mas como eu queria que fosse).

Eu durmo para esquecer. Esquecer dos males daqui da vida real. Esquecer que sou apenas mais um, sendo que nos meus sonhos eu posso ser até o rei da Prússia. Esquecer que sou sozinho. Esquecer que animais não falam nem que eu não posso voar. Esquecer quem eu sou, e poder passar uns minutos na pele de um personagem, mais divertido, mais amado, mais poderoso.

Eu durmo pra experimentar. Experimentar durante um pesadelo em como seria se alguém querido morresse (doeria...bastante). Experimentar o beijo de uma pessoa que só vi pela TV. Experimentar se seria bom se eu estivesse em outra vida, em como teria sido se aquela promessa de amor tivesse sido realmente eterna, em como seria se eu morasse em outro mundo.

Eu durmo para acordar. Acordar de um pesadelo e dizer "ufa". Acordar de um sonho bom querendo a todo gosto voltar para ele. Acordar de uma noite de devaneios e ilusões, de uma felicidade (ou tristeza) passageira. Acordar para viver a vida real, com sua frieza e linearidade, para lembrar, enquanto olho a paisagem da janela do onibus, do sonho bom da noite anterior, em que eu voava, e era um super-heroi de planetas distantes. "Como queria que fosse verdade".

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Ciclo I - Nostalgia

Estar com vocês. Sorrir com vocês. Brincar com vocês. Minha alma se enche de êxtase. Meu espírito flutua, enquanto em nossas convenções se evocam as memórias do passado. E eu me lembro dos meus primeiros anos, em que era um ingênuo garoto gordinho que mamou até os 4 anos de idade, usou fralda até os 5, e bebeu leite em mamadeira até os 7. Aos 10, o garotinho feriu sua natureza pacífica com a sua primeira briga na escola. Aos 11, seu primeiro beijo. Aos 13, sua primeira desilusão. Creio que a partir daí a infância, que tardou a voar, já não estava mais presente na sua mentalidade. Maturidade veio bem depois, ficando nesse espaço um misto de confusão, aprendizagem e experimentos.

Minhas atitudes de criança me fazem rir hoje, e me trazem um bom sentimento de nostalgia. Ao conversar com vocês, eu relembro do dia em que minha mãe tentou a todo custo fazer com que eu parasse de mamar, e passou babosa no mamilo. O bebê , que já tinha mais de 3 anos, chora ao sentir o gosto de fel, e a mãe tem piedade, lavando o mamilo e dando-o ao seu filho. Ao examinar meu corpo, lembro de como ganhei as cicatrizes que ficara gravadas em mim como uma recordação das traquinagens infantis. Lembro-me de quando eu fui a um cinema pela primeira vez, assistir MULAN, e a euforia me fez bater na porta de vidro.



Revendo minhas fotos, recordo-me das minhas antigas amizades. Aquelas cujo tempo foi mais forte que o laço que nos unia, e que fez com que as pessoas se perdessem na história da minha vida. As amizades de escola, movidas por grande companheirismo, mas sem atração alguma para continuar fora desse ambiente. Como será que vão aqueles meus amigos em que nós trocavamos juras de amizade eterna? Que caminho será que eles trilham? Quais eram mesmo os seus nomes?

Ver comida me lembra que eu era o 'bolinha' da família, aquela criança que comia duas fandangos e um pastel de queijo por dia, e ganhou numa brincadeira de ano novo o título de "mais guloso". A criança não se importou nem um pouco de ganhar esse título, mesmo porque isso fez com que ela ganhasse uma caixa recheada de bombons de leite em pó. Lembrar da obesidade também me lembra do terror por médicos, em que a criança ia em pânico, temendo pelo médico receitar uma cirurgia ou vacinas, remetendo também ao medo por agulhas.

Lembro desses detalhes ao ver passar uma criança. Lá vai ela, brincando e sorrindo, não pensando no amanhã (talvez apenas no desenho animado de amanhã). A sua maior pretensão de vida é ganhar no jogo que está brincando. Seu maior compromisso é fazer a tarefinha de casa. Ela pode não saber, mas ela é feliz, pois tem tudo que precisa. Um dia ela crescerá. Abandonará o lar para fazer seus próprios passos. Procurará alguém para estar junto. Se preocupará com dinheiro. E sentará na praça, observando as crianças brincarem, pensando nas mesmas palavras que escrevo agora. Pensando no seu mundo que tinha tudo, mas que não voltará mais.

imagem sugerida por cervejadecereja

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Ciclo I - Estático


Meus dias estão estáticos. Eu tenho vivido o mesmo dia, que se repete manhã após manhã, como se estivesse dentro de um ciclo temporal. Só que o tempo está passando em minhas células, pois sem perceber, estou envelhecendo. O que passa é minha evolução. Me sinto trancado neste ambiente. E nem sequer me animo para mudar meu cativeiro até que os dias se acabem.

Meu corpo está estático. Não engorda, não emagrece; só envelhece. Envelhecimento esse que um dia lamentarei, mas hoje o clamo. Clamo para que essa estaticidade me deixe, e eu abandone a casa dando pulos para conhecer o mundo.

Minha mente também está estática. Ela não tem encontrado muitas ocasiões em que seja útil. Dúvidas não lhe são mostradas para serem decididas. Índoles não lhe são apresentadas para serem julgadas. Problemas? Nada que exija esforço. A estaticidade traz tranquilidade, mas também traz tédio. E disso sim, minha mente tem processado constantemente.


Meu coração encontra-se em igual estática. Parou a um certo tempo de trabalhar. Não tem conseguido "sentir". Não ama ninguém, pois não encontra pessoas para amar. Não dói por ninguém, mas também não brilha por ninguém. Suas contrações me indicam que ele ainda vive; não fosse isso, eu teria perdido as esperanças.

Até minhas palavras encontram-se em estática. Idéias me bombardeiam de tempos em tempos, mas eu não tenho conseguido passá-las ao mundo real. Encontro bloqueios, e quando tento ouvir algum nexo em meus pensamentos, apenas ouço o terrível chiado da estática.

E pra onde foi meu dinamismo? Pra onde foi minha vontade de viver intensamente? Eu quero escrever, quero pensar, quero amar, quero gritar, quero sair...QUERO MUDAR. E enquanto eu espero meus dias estáticos passarem (porquê sim, eles acabarão), o jeito é dar estaticidade à paciência, essa que me mantém tranquilo e esperançoso, mesmo no meio de tanta normalidade.