Te contei? Tentaram me cegar, a ponto de eu não conseguir mais te ver. Mas minha retina é parte de mim, e como tal, gozou quando teve a oportunidade de desobedecê-los. E como desde a primeira vez que o vislumbrei, caminhando na minha direção, com seu visual euro-asiático, hoje quero , mais uma vez, e ilicitamente, consumí-lo. Passar a perna na tal de boa-conduta. Agir como se fosse um criminoso, mesmo sem quebrar nenhuma lei. Hoje irei te tocar. Hoje irei te fumar.
E é esta a analogia que me vem à mente. Você é o meu cigarro. Encosta em minha boca, esquenta minha laringe, invade meus pulmões. Faz-me arfar cinzas, resquícios de uma flama interior. Aos poucos, me decompõe. Me desconstrói. Descaracteriza meu físico e psíquico. Por outro lado, me faz flutuar. E talvez seja apenas o que preciso no momento; um pouco de vôo. Ser um pouco inconsequente e botar a culpa na imaturidade jovial. Viver menos no futuro para viver mais no agora. Venha, alce-me em direção ao céu mais uma vez. Eu sei, não deveria. Mas é instinto, primo rival da razão. Te consumirei mais intensamente. Desta vez, tirarei o filtro.
Delírios: eles faziam parte do contrato? Que calor excessivo é esse que sai de seu hálito, como se eu estivesse deitado com um dragão? Que formas místicas são essas que se formam quando nossos hálitos se enuveiam logo acima de nós? Deus, que sensação boa. Deitaremos agora, abraçados, e deixaremos nosso lado pareidólico fluir. Aqui, quietinhos, sem incomodar ninguém, mas contraditoriamente, incomodando a moral. Aqui passará algumas emoções, mas a culpa, esta trilhará por longe.